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Kathy Bates vence o tédio de Kelley e salva seriado

domingo, 24 de julho de 2011

CULTURA

Kathy Bates vence o tédio de Kelley e salva seriado

“Harry’s law”, recém-estreada no Brasil, quase foi cancelada pela NBC, mas rendeu indicação ao Emmy para a atriz e recebeu reforços no elenco para uma segunda temporada. Por Solange Noronha

Dê uma chance a “Harry’s law” você também. Esqueça seu criador, David E. Kelley, e ajuste o foco em Kathy Bates ao sintonizar na Warner. A grande atriz merece, pois, com seu talento, conseguiu segurar 12 episódios de uma série que custou a se definir e — façanha ainda maior nas grandes redes de TV dos EUA — garantiu sua sobrevida para mais uma temporada, apesar do decréscimo da audiência
Harrys Law
Só mesmo Kathy para dar credibilidade a Harry, ou Harriet Korn, uma advogada entediada e desiludida com a vida e a carreira que, aos 60 e poucos anos, solteira e sem filhos, troca as chatíssimas leis de patentes pelo direito criminal. A emoção, no entanto, custa a chegar — para a personagem e para o público. É como se o “doutor” David, advogado antes de se tornar roteirista, estivesse cansado do sucesso — especialmente do sucesso com seriados em torno de causídicos, como “Ally McBeal”, “O desafio” e “Justiça sem limites” (ou “Boston legal”, no original).
Alan Shore e Denny Crane- Charutos, uísque e confidências no terraço
Talvez exaurido pelas deliciosas loucuras da impagável dupla Alan Shore (James Spader) e Denny Crane (William Shatner), Kelley tentou até uma fuga radical dos tribunais: saiu da sua “praia” diretamente para o universo dos super-heróis, criando uma nova versão da Mulher Maravilha que seria uma poderosíssima executiva em sua “vida civil”. Não emplacou. O piloto (que deve ter custado uma fortuna) foi rejeitado pela NBC.
Mulher Maravilha foi vetada
O fantasma de Denny Crane
Em “Harry’s law”, Kelley parece querer se livrar de tudo o que fez. Troca o conforto de sua cidade, Boston, por Cincinatti e faz sua personagem central se instalar numa vizinhança barra pesada. A ideia da dobradinha escritório/loja de sapatos não funciona muito bem. Os tempos agora também são outros — e os magníficos discursos contra a política da era Bush não têm mais lugar. Mas não é só isso.
O autor quase faz do advogado vivido por Christopher McDonald um novo Denny Crane (o novo bufão, Tommy Jefferson, chega a repetir seu nome ao se apresentar, uma das marcas do antigo personagem). Aos poucos, porém, criador e criatura conseguem dar a volta por cima — tanto que, na próxima temporada, o ator está no elenco fixo da série.
Mark Valley em Boston Legal
Já os jovens Aml Ameen e Brittany Snow dão tchau — ela não é ruim, mas está fazendo uma cópia de Reese Witherspoon em “Legalmente loura”. Os dois saem para dar lugar aos mais maduros Mark Valley (que trabalhou em “Justiça sem limites”) e Karen Olivo (já premiada com um Tony por seu trabalho na Broadway e com poucas aparições na TV). E os veteranos Alfred Molina e Jean Smart já estão garantidos em participações que irão durar pelo menos três episódios.
O Alan Shore ideal
Há outros ajustes a serem operados na trama. Kathy Bates tem energia de sobra para fazer Harry brilhar em casos de peso — contra a pena de morte, contra gigantes industriais, contra o sistema. Tanto que, apesar da apatia de sua personagem, mereceu a indicação ao Emmy (veja a lista completa dos indicados, divulgada no último dia 14, aqui). Ela não é temida como a Patty Hewes de Glenn Close em “Damages” — mas emana força e poder. Embora pose com uma arma no cartaz da série, Harry Korn é sóbria como Denny Crane jamais foi. Ela busca a paixão — que ele tinha de sobra. Embora tenha sempre companhia quando toma um uísque ou uma cervejinha, a ela faltam o ambiente perfeito e o interlocutor ideal, o seu terraço (algum cantinho especial na loja de sapatos?) e o seu “Alan Shore”. Christopher McDonald pode ser candidato a este posto. Ou Paul McCrane, o promotor Josh Payton, que pira ao longo de suas aparições — saudades dos personagens maluquinhos, um dos trunfos de “Boston legal”.
Denny e Alan
O trunfo, aqui, é Kathy Bates, que fez sucesso desde cedo nos palcos, mas custou a aparecer no cinema, por não se enquadrar nos padrões hollywoodianos — é baixa, gordinha e, agora, também uma senhora sessentona (ainda que uma senhora atriz). Ao longo da carreira, ela provou que sabe esperar — basta ver o caminho que percorreu entre a leitora fanática de “Louca obsessão”, que lhe deu o Oscar e o Globo de Ouro de melhor atriz, e a Gertrude Stein do último filme de Woody Allen, “Meia-noite em Paris”. As cartas estão com David E. Kelley. É dele o ônus de não perder o jogo com a mão feita.

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